quarta-feira, 7 de abril de 2010

A infância

Lá em casa nenhuma criança teve infância. Meu pai nos colocava para trabalhar cedo. Ele e toda a família atua no ramo de imóveis em Contagem. Aos doze anos já trabalhava na imobiliária. Estudava meio horário, trabalhava mais meio e, à noite, ficava em casa. Todos os dias minha rua parecia 'de lazer'. Garotos e garotas de todo o bairro e de outros vizinhos iam para lá. A rua (onde ainda moro) era plana, asfaltada, ideal para jogar queimada, futebol, vôlei, brincar de "roba" bandeira, de elástico e andar de bicicleta. 

O problema é que meu pai não nos deixava brincar. Para ver o que acontecia na rua eu e meus irmãos ficávamos revezando, em cima de um ferro que era preso ao muro para segurar o portão. Também subíamos nas madeiras que ficavam na varanda. Para conversar com os colegas, só mesmo pelas gretas do portão. Era muito triste! Minha mãe ficava com o coração apertado e, vez ou outra, quando achava que meu pai ia chegar mais tarde, deixava a gente ir brincar. 

Quando mal esperávamos aparecia um carro com faróis de milha - o único da rua. Ali mesmo, antes de abrir o portão ele tirava o cinto de couro e começava a nos bater. O apelido dele virou Beto Carreiro. Dentro de casa, continuávamos a apanhar. Lembro de um dia que eu e minhas três irmãs ficamos trancadas no banheiro. Eu era a mais velha e não queria que ele batesse nas minhas irmãs. Ele disse: 'Já que é assim você vai apanhar por todas elas'. Ele arrancou o chuveirinho e, o resto vocês já podem imaginar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário